Chegar aos 75 anos (que completa neste 26 de julho) tendo dedicado 56 deles aos Rolling Stones proporcionou toneladas de admiradores a Mick Jagger…, e também alguns detratores. Os que já cruzaram seu caminho se alternam entre adulações sobre seu talento e recriminações sobre sua personalidade mutante, sua irredimível sedução e sua visão do rock and roll como um negócio. Ninguém fica indiferente a este roqueiro pai de oito filhos (o último deles de apenas dois anos, tido com Melanie Harmick, 31 anos, bailarina do American Ballet Theater).
Músicos de sua banda, artistas que tropeçaram com ele e algumas das mulheres da sua vida se referem a ele nesses termos; em conjunto, descrições que nos dão uma visão diferente desse cantor, dançarino, empresário, cavaleiro da Ordem do Império britânico e ícone cultural do século XX.
Bianca Jagger (ex-mulher): “É o cúmulo do machismo”
Atriz ocasional e ativista social, a nicaraguense Bianca Pérez-Mora Macías foi casada com Jagger entre 1971 e 1979. O relacionamento desandou quando o roqueiro começou a sair com a modelo Jerry Hall. Jagger e Bianca só tiveram uma filha, Jade, atualmente modelo e estilista de joias. Quando falou ao EL PAÍS em 2011, ainda aflorava o ressentimento contra seu célebre ex-marido: “Até certo ponto, eu era um peixe fora d’água no meu casamento”, disse. “Nunca me encaixei no seu mundo. No dia do meu casamento foi muito desconcertante, percebia que não teria controle sobre a minha vida. Mick é o cúmulo do machismo, e de certa forma meu divórcio foi uma libertação. Mas foi difícil; não queria que tivesse acontecido.”
Keith Richards (guitarrista dos Rolling Stones): “Senti que ele tinha me traído”
Companheiro de perrengues (e de brigas) desde meados dos anos sessenta —e a outra metade dos famosos glimmer twins—, Richards aproveitou sua autobiografia, Vida, para expor seu mal-estar quando Jagger deixou a banda na mão para iniciar uma turnê solo, em 1987. “A grande traição de Mick”, foi sua definição para o episódio. “Mick e eu podemos não ser amigos —houve muito desgaste para isso—, mas somos os irmãos mais unidos, e nada poderia nos separar. Mas os irmãos brigam. E minha sensação foi que ele tinha me traído. Mick sabe como me senti, embora talvez não tenha compreendido a profundidade de meus sentimentos. (…) Ao mesmo tempo, eu não poderia ouvir ninguém falar mal do Mick. Cortaria a garganta de quem fizesse isso.” Em janeiro de 1990, organizou-se uma reunião em Barbados para que fizessem as pazes.
Não há relação mais marcada pelo amor e ódio que a de Mick Jagger e Keith Richards. Claro, eles trabalham juntos há mais de 50 anos. Aqui, são vistos na Inglaterra, em 1967.GETTY
Ron Wood (guitarrista dos Rolling Stones): “Ele roubava as minhas ideias”
Embora só tenha entrado para os Stones em 1975, Wood (que atuou inicialmente na banda de Jeff Beck e mais tarde na Faces) conhecia Jagger de toda a vida. “Nós nos conectamos muito bem desde o começo”, reconhece o guitarrista em seu livro Ron Wood – A Autobiografia de um Rolling Stone. Mas, como se sabe, o excesso de intimidade pode virar desrespeito. Ele conta que em 1974 compuseram juntos algumas canções das quais o vocalista se apropriou. “Mick tomava algumas ideia e estruturas que depois se transformavam numa canção assinada por Jagger/Richards. Não me importou ter que passar por aquilo durante anos: foi minha época de aprendizagem”, escreve.
Chrissie Shrimpton (ex-namorada): “Suas infidelidades me levaram a uma overdose”
Foi a primeira namorada séria de Jagger; conheceram-se quando ele ainda estudava na Faculdade de Economia, e ela —irmã mais nova da famosa modelo Jean Shrimpton— trabalhava como secretária. Chegaram a fazer planos de se casar, mas em 1966 o já vocalista dos Stones começou a se mostrar distante. Acontece que fazia tempo que estava apaixonado por Marianne Faithfull. Quando soube, Chrissie tomou uma overdose. “Não era para chamar a atenção”, declarou. “Realmente eu queria morrer, achava que minha vida tinha acabado.” Depois saiu com Steve Marriott, dos Small Faces. Hoje, leva uma vida afastada da fama, na zona sul de Londres.
Liam Gallagher: “Coitado, vai ter que dançar até os 108”
Uma vez, Jagger expulsou-o da sua casa. Como contou Liam à NME, Mick o havia convidado para uma festa, mas naquele dia o vocalista do Oasis estava drogado demais (havia tomado um comprimido antes de entrar) e acabou sendo colocado para fora. Em 2017, declarou à mesma revista, referindo-se a Jagger: “Com todo respeito aos dinossauros, não sou esse tipo de gente. Sou antiespectáculo. Coitado, vai ter que dançar até os 108 anos”. Apesar de tudo, coloca os Stones num altar: “Para mim é a banda definitiva do rock and roll. Os Beatles eram como magos, mas os Stones eram os sujeitos autênticos”.
Marianne Faithfull (ex-amante): “Era um sacaninha descarado”
Era uma colegial quando conheceu os Stones, em 1964, e Mick transformou-a primeiro em amante e depois em musa e cantora (Jagger e Richards escreveram para ela a canção As Tears Go By, de 1964). Em sua autobiografia, Faithfull recorda que naquela Londres “do amor livre, das drogas psicodélicas, da moda, do zen, de Nietzsche, da bijuteria, do existencialismo sob medida, do hedonismo e do rock and roll”, o jovem Jagger “era um sacaninha descarado”. Numa entrevista ao Daily Mail, admite que o amou muito, “mas separar foi o melhor para os dois”. Romperam em 1970.
Rod Stewart: “Ele me propôs praticar sexo grupal”
Outro velho amigo —também cantor—, companheiro de aventuras musicais e baladas… Conta ele que Mick queria compartilhar algo a mais. Em meados dos anos setenta, quando Stewart estava saindo com a modelo Dee Harrington, Jagger lhe propôs fazer um quarteto (não musical) com sua então mulher, Bianca. Rod declinou. “Só fiz assim uma vez na minha vida, com duas garotas orientais, e não curti. Sou um romântico, gosto de estar a dois, das velas, das preliminares…, as coisas tradicionais”, relatou ele numa entrevista. Também comparou as habilidades vocais de ambos: “Mick é um bom cantor de blues, mas tecnicamente não é tão bom como eu”.
Mick Jagger e Jerry Hall numa foto dos anos noventa em Barbados. Ela posa grávida.GETTY
Jerry Hall (ex-mulher): “É um gato vira-lata”
Oriunda de uma complicada família texana, Hall chegou a Paris aos 17 anos disposta a virar modelo, e conseguiu. Uma coisa levou à outra, e em 1977 começou a sair com Jagger. Casaram-se pelo rito balinês e estiveram juntos por 22 anos, tempo suficiente para que tivessem quatro filhos. Também padeceu as infidelidades do músico. “É um gato vira-lata”, queixou-se ao The Guardian em 2010. “Depois do quarto filho pensei: já está bem. Ele conseguiu.” Desde 2016, Hall é casada com o empresário Rupert Murdoch.
Angie Bowie: “Flagrei-o na cama com David Bowie”
A modelo Angie Bowie, esposa de David Bowie entre 1970 e 1980, contou ao The Sun que, chegando certo dia à sua casa, sua secretária informou-lhe que Bowie e Jagger estavam se divertindo em seu dormitório. Ela subiu para comprovar. “Irrompi no quarto e disse: ‘Bom dia! Preparados para o café da manhã, meninos?’. David estava coberto de travesseiros e edredons, e do outro lado da cama estava a perna de Mick. Não é só que estivessem juntos na cama, é que estavam nus.” Foi em 1973. Os dois músicos gravariam juntos em 1985 a canção Dancing in the Street.
Bono (U2): “Sua polaridade frequentemente me deixa atônito”
Numa entrevista à revista alemã Welt, o vocalista do U2 contou que seu primeiro encontro com Jagger ocorreu em 1983, num estúdio de gravação de Nova York: “Recordo que ele vestia uma espécie de jaqueta marinha cruzada e calçados náuticos. Estava muito conforme com a moda inglesa da velha escola, de uma maneira boa e tradicional. E esse Mick Jagger parado na minha frente era muito diferente da pessoa que dava rédea solta ao seu público. Simplesmente me chamou a atenção essa diferença entre seus lados privado e público. Anos depois, quando nos conhecemos e ficamos amigos, essa polaridade frequentemente me deixava atônito”.
Elton John: “Ainda quer ser alguém, mas não”
O cantor e pianista não está muito de acordo com a maneira como Mick e os Stones conduzem suas carreiras nos últimos tempos. “Deveriam voltar a fazer discos de blues, como os que faziam no começo”, declarou em 2016 a uma emissora de rádio norte-americana, conforme cita o The Mirror. “Acho que Mick ainda quer ser alguém. Bom, pois não é. E Keith adoraria fazer um disco com essas características. E considero que é o que deveriam estar fazendo.” Mesmo assim, Elton não se dá muito bem com Keith Richards. “Seria horroroso ser como ele. É patético”, disse em 1997, depois que o guitarrista criticou-o por gravar a oportunista versão de Candle in the Wind depois da morte da princesa Diana.
Marsha Hunt (mãe de uma das filhas de Jagger): “Fico contente de que não tenha criado a nossa filha”
Como atriz e cantora da versão britânica do musical Hair e ex-amante de Mick Jagger e Marc Bolan, pode-se dizer que Hunt viveu plenamente a swinging London dos anos sessenta. Proclama que a canção Brown Sugar, dos Stones, foi inspirada nela. Jagger negou-se a aceitar a paternidade de sua filha Karis, nascida em 1970, até que uma sentença judicial obrigou-o a isso. “Sei que Karis seria uma pessoa diferente se ele tivesse estado perto o tempo todo, e de certo modo posso dizer que foi uma sorte que não tenha sido assim. Nem tanto por ele. É por sua posição, seu estilo de vida, sua carreira, suas amizades”, afirmou ela ao Daily Mail.
A cantora e atriz Marsha Hunt posa com sua filha Karis, em 1971. Mick Jagger se negou a admitir a paternidade até ser obrigado a isso por uma sentença judicial.GETTY
Bill Wyman (ex-baixista dos Rolling Stones): “Só quer saber de dinheiro”
O baixista Bill Wyman deixou a banda em 1993, alegando cansaço: “Entrei nessa achando que duraria três anos, nos quais eu me divertiria e ganharia uma grana. Mas estou há 30, e já chega”. Não gosta dos rumos que o grupo tomou desde sua saída. Wyman critica que Jagger e outros “só querem saber do dinheiro. Vendem por 200 dólares nos EUA camisetas nas quais aparece também o meu rosto. Sua turnê americana é patrocinada por uma empresa de hipotecas para idosos. Os Stones viraram uma gigantesca corporação. Estão fazendo coisas que dissemos que nunca faríamos, como vestir smoking e gravata borboleta para receber um prêmio”, relatava o EL PAÍS em 2006.
(El País)
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